Matéria escrita na disciplina de extensão de integração acadêmica do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas: Microbiologia e Imunologia. Creditação da extensão no Instituto de Microbiologia.
Matéria escrita por Fernanda Rei, aluna do 8º período do curso de graduação em Ciências Biológicas: Microbiologia e imunologia.
No ano de 1998, o Rio de Janeiro notificou o primeiro caso do que seria a sua epidemia mais longa. Desde então, houve um aumento do número de pessoas com lesões nas camadas profundas da pele. Tratava-se de uma micose (doença causada por fungo) conhecida por esporotricose. O que acometia duas pessoas por ano, passou a acometer, em média, quase setecentas, caracterizando um grande problema para a saúde pública do Estado do Rio.
Embora a doença já fosse conhecida, foi a primeira vez que a esporotricose foi vista como uma zoonose (doença que acomete animais e é transmissível ao humano). Considerada a micose mais comum da América Latina, a esporotricose acomete humanos e animais, causando nódulos e úlceras na pele, sendo os fungos do gênero Sporothrix responsáveis pelo desenvolvimento dessas lesões.
O fungo causador da esporotricose geralmente se espalha pelo sistema linfático do hospedeiro. As feridas que se formam são doloridas e apresentam um aspecto que pode parecer assustador, mas que, em geral, não provoca maiores complicações no indivíduo. Apenas em casos em que o paciente está com alguma deficiência imunológica (HIV positivo, por exemplo), a doença pode comprometer sua vida.
O fungo Sporothrix está presente naturalmente no solo, sendo contraído pelos animais e pessoas a partir do manuseio de terra ou plantas. Embora esta seja a via de transmissão clássica da doença, o aumento considerável dos casos de esporotricose humana, se deu a partir da transmissão zoonótica, quando o fungo é transmitido por mordidas ou arranhaduras de um animal doente. Vale lembrar que o animal também é um refém da doença e, assim como os humanos, precisa do tratamento adequado.
Nesse contexto, os gatos apresentam papel importante na disseminação da doença. Os gatos estão sujeitos a essa doença devido a seus hábitos comportamentais, como o contato com areia contaminada com o fungo e contato ou brigas com outros gatos infectados. Dessa forma, eles se tornam mais suscetíveis à doença do que o restante dos animais. Além disso, a população de felinos aumentou no Estado do Rio, facilitando a disseminação da esporotricose.
Popularmente, a esporotricose também é chamada de “doença do gato” porém os gatos não são os culpados. Existem diversos fatores ainda não esclarecidos sobre o impacto dessa doença nos felinos, mas já é conhecido que, dentre todos os hospedeiros, os gatos são as maiores vítimas do Sporothrix e não são poucos os casos de felinos que vão a óbito pela doença.
A esporotricose tem solução! Sua cura é lenta e requer paciência, mas o tratamento é eficaz. Uma excelente maneira de prevenção da disseminação seria a castração dos animais, pois isso controlaria a população crescente de gatos e diminuiria as brigas entre eles diminuindo, consequentemente, a contaminação de outros animais e humanos. É muito importante cuidar bem de nós mesmos e dos nossos felinos, em casos de esporotricose. Os gatos também são vítimas da doença e precisamos dar uma atenção especial a eles para um controle eficiente dessa epidemia.
Para maiores informações, a FIOCRUZ possui uma unidade com pesquisadores envolvidos no estudo da esporotricose e que disponibilizam um material sobre o assunto para a população. Acesso em FIOCRUZ-Esporotricose.
Barros, M. B., Schubach, A. O., Schubach, T. M., Wanke, B., e Lambert-Passos, S. R. (2008). An epidemic of sporotrichosis in Rio de Janeiro, Brazil: epidemiological aspects of a series of cases. Epidemiology & Infection, 136, 1192-1196.
Freitas, D. F. S., Valle, A. C. F. D., Paes, R. D. A., Bastos, F. I. P. M., e Galhardo, M. C. G. (2010). Zoonotic sporotrichosis in Rio de Janeiro, Brazil: a protracted epidemic yet to be curbed.
Foto esporotricose felina: Gremião, I. D., Menezes, R. C., Schubach, T. M., Figueiredo, A. B., Cavalcanti, M. C., e Pereira, S. A. (2015). Feline sporotrichosis: epidemiological and clinical aspects. Medical mycology, 53, 15-21.
Muniz, A. S., e Passos, J. P. (2009). Esporotricose humana: conhecendo e cuidando em enfermagem. Rev. enferm. UERJ, 17, 268-272.
Foto esporotricose humana: MAHAJAN, Vikram K. Sporotrichosis: an overview and therapeutic options. Dermatology research and practice, v. 2014, 2014.
Microscopia Sporothrix: http://thunderhouse4-yuri.blogspot.com.br/2015/05/sporothrix-schenckii-complex-revisited.html
http://sbdrj.org.br/catnoticias/sbdrj-lanca-cartilha-sobre-esporotricose/
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