Instituto de Microbiologia Paulo de Góes

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INSTITUTO DE MICROBIOLOGIA PAULO DE GÓES

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16/04/2015

Bactérias anti-obesidade

Por Marina Farrel

Desde nosso nascimento e ao longo de nossa vida, vários micro-organismos sobrevivem e se multiplicam nas superfícies de tecidos de nosso corpo, como a pele e mucosas. Este processo é conhecido como colonização e uma das principias superfícies colonizadas são as que fazem parte do nosso sistema de digestão. Micro-organismos encontrados, na parede intestinal podem propiciar tanto benefícios quanto malefícios para nossa saúde.  Podem interferir no processo de digestão, sintetizar micronutrientes e atuando em nosso sistema imune.  Esta ação pode ser positiva, nos protegendo de  certas doenças ou negativa  quando são os agentes diretos ou indiretos de doenças.

Entender como se dá esse delicado equilíbrio entre os efeitos benéficos e os maléficos da microbiota anfibiôntica é motivo de intenso estudo de diversos cientistas. O conjunto de bactérias que colonizam nossas superfícies é denominado microbiota anfibiôntica. Essa microbiota pode sofrer modificações dependendo do tipo de alimentos consumidos por uma pessoa. Deste modo, é muito importante manter uma dieta saudável para que sua microbiota seja composta por micro-organismos simbiontes, ou seja, que vivem em harmonia e causam benefícios e não doenças. Estima-se que a microbiota intestinal humana seja composta de 103 a 104 micro-organismos, o que supera a quantidade de células humanas.

A obesidade resulta de alterações no equilíbrio de energia, isto é, como o corpo regula o consumo de energia, gasto e o armazenamento. Já que a fome representa um perigo maior para o organismo do que o excesso de alimentos, nossos sistemas biológicos são mais voltados para nos proteger contra perda de peso do que o ganho de peso, ou seja, um modelo econômico. Os restaurantes estão cada vez mais oferecendo alimentos baratos, saborosos e altamente calóricos. Evidências recentes sugerem que a microbiota intestinal afeta a aquisição de nutrientes e regulação de energia, e que grupos de pessoas obesas e magras podem apresentar diferenças no tipo de micro-organismos que fazem parte da microbiota intestinal.  

Um experimento realizado por um cientista Frances chamado Millian e por seus colaboradores mostrou que a obesidade está associada às mudanças observadas na quantidade relativa das duas divisões bacterianas dominantes no intestino, Bacteroides  e Firmicutes. Naquele estudo, a proporção relativa de Bacteróides estava diminuída em pessoas obesas em comparação com pessoas magras enquanto que a proporção de Firmicutes estava aumentada em pessoas obesas. Foi observado que a microbiota mais comum no obeso possuía maior capacidade para absorver energia da dieta. Além disso, quando os pesquisadores introduziram no intestino de camundongos uma microbiota obtida de um indivíduo obeso foi observado um aumento da gordura corporal total dos animais, sem qualquer aumento no consumo de alimentos.

Foi então observado que, com uma dieta não balanceada, as bactérias que produzem enzimas capazes de quebrar polissacarídeos não digeríveis normalmente pelo corpo humano foram selecionadas, introduzindo calorias adicionais na dieta e diminuindo as calorias eliminadas nas fezes. Estudos com camundongos colonizados com uma microbiota de obeso apresentaram não somente um aumento da gordura corporal total, mas também passavam a apresentar resistência à insulina. Este aumento de peso e resistência à insulina parece ocorrer por causa da extração mais eficiente de energia pela microbiota a partir de fibras não digeríveis, o que gera no hospedeiro um aumento da absorção instestinal de glicose, aumento da glicose (glicemia) e da insulina (insulinemia) no sangue. Assim, tudo indica que a microbiota intestinal participa da digestão de polissacarídeos, aumentando a quantidade de glicose no fígado e portanto, o seu armazenamento em forma de gordura (lipogênese).

Foi sugerido que a dieta rica em gordura (comum em indivíduos obesos) levaria ao desequilíbrio da microbiota e, uma microbiota em desequilíbrio, poderia contribuir para a obesidade. Assim, uma conduta que vem sendo proposta para o tratamento e prevenção da obesidade é garantir uma microbiota equilibrada e um funcionamento intestinal adequado. Um método sugerido para recompor uma microbiota equilibrada foi o uso de probióticos. A Organização Mundial de Saúde define probióticos como “organismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro”. Como função benéfica no organismo, alguns estudos têm sugerido que os probióticos teriam efeito sobre o equilíbrio bacteriano intestinal: controle do colesterol e de diarreia. Certos suplementos probióticos podem ser componentes de alimentos industrializados presentes no mercado, como leites fermentados, iogurte, ou podem ser encontrados na forma de pó ou cápsulas. Finalmente, é preciso deixar claro que nem sempre probióticos geram benefícios para nossa saúde. Por exemplo, pesquisas recentes demonstraram que tratamentos baseados em probióticos estavam associados ao aumento de mortes em pacientes com pancreatite aguda. Assim, apesar de alguns resultados serem animadores, existe a necessidade de mais investigações sobre o efeito das adições rotineiras de probióticos em alimentos ou de seu uso como suplementos.

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Referências:

Cani, P. D., Possemiers, S., Van de Wiele,T., Guiot, Y., Everard, A., Rottier,O., Geurts, L., Naslain, D., Neyrinck,A., Lambert, D. M., Muccioli, G.G., and Delzenne, N. M. Changes in gut microbiota control inflammation in obese mice through a mechanism involving GLP-2-driven improvement of gut permeability. Gut 58, 1091–1103, 2009.

 Vyas, U. & Ranganathan, N. Probiotics, prebiotics, and synbiotics: gut and beyond. Gastroenterol Res Pract., 2012.

 Angelakis EArmougom FMillion MRaoult D.The relationship between gut microbiota and weight gain in humans. Future Microbiol. 7(1):91-109., 2012.

 Marik, P.E. Colonic flora, Probiotics, Obesity and Diabetes. Front Endocrinol (Lausanne). 3:87., 2012.

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