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INSTITUTO DE MICROBIOLOGIA PAULO DE GÓES

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16/04/2015

Concentrações baixas de antibióticos podem aumentar as defesas do nosso corpo contra pneumococos

Por Lígia Guedes da Silva

Pneumococos são as principais bactérias associadas ao desenvolvimento de pneumonia e meningite na população – principalmente entre crianças e pessoas imunocomprometidas. As doenças graves causadas por esse micro-organismo podem ser fatais, mesmo quando antibióticos são usados. A eficiência do tratamento depende da ação conjunta do sistema imune do paciente e da ação direta do antibiótico sobre a bactéria, e a seleção e espalhamento de bactérias resistentes limita as opções de tratamento e dificulta aos médicos a escolha da melhor concentração e de qual antibiótico a empregar.

O sistema complemento é uma das maneiras de nosso sistema imune reagir a infecções, e ele envolve uma série de proteínas que podem se ligar às bactérias facilitando sua eliminação. Ele é um dos mecanismos da nossa chamada defesa inata, que é que uma das primeiras linhas de defesa do nosso corpo. Já foi observado que pessoas que possuam defeitos nesse sistema de defesa têm mais chances de desenvolver doenças graves por várias bactérias em que esse sistema é importante para a eliminação – e os pneumococos se incluem nesse caso.

Com o espalhamento da resistência a diversos antibióticos, estratégias diferenciadas de tratamento podem ser a solução para driblar esse problema. Não por acaso, um grupo de cientistas espanhóis recentemente publicou um artigo onde defendem a ideia de que concentrações sub-inibitórias (ou seja, menores que as necessárias para completa eliminação das bactérias) de antibióticos específicos possam contribuir para a maior eficiência do sistema complemento, e assim, ajudar a eliminar essas bactérias, mesmo as que apresentem resistência a esses mesmos antibióticos.

Ao misturarem soro sanguíneo de pessoas vacinadas que já haviam desenvolvido anticorpos anti-pneumococos e concentrações sub-inibitórias de antibióticos às bactérias, os cientistas observaram um aumento na ligação das proteínas do sistema complemento aos pneumococos – o que não acontecia quando apenas o soro e as bactérias eram misturados. Essa ligação das proteínas às bactérias retardou o desenvolvimento de doença, além de possibilitar a eliminação delas e diminuir as taxas de mortalidade em modelo animal, conforme observado em um outro estudo.

A ação dos antibióticos pode levar a alterações na superfície bacteriana, podendo assim expor antígenos da bactéria que são pouco expressos ou que em geral estão mais escondidos. Os cientistas acreditam que é essa exposição que pode auxiliar no processo de reconhecimento da bactéria pelo sistema imune, o que por sua vez auxiliaria na sua eliminação.

Tal estratégia parece também se aplicar a antifúngicos no tratamento de micoses, em que novamente, concentrações sub-inibitórias foram capazes de estimular os mecanismos de defesa contra o fungo Aspergillus fumigatus.

O emprego desse tipo de estratégia pode diminuir as chances de falha de tratamento em pessoas que já foram vacinadas contra pneumococos, e que porventura estejam infectadas por estirpes resistentes a antibióticos. É provável que essa estratégia também possa ser aplicada para o tratamento de doenças causadas por outros micro-organismos, e apenas mais estudos podem responder a essa questão.

Referências Bibliográficas:

Ramos-Sevillano E, Rodríguez-Sosa C. Cafini F,  Giménez MJ, Navarro A, Sevillano D, Alou L, García E, Aguilar L & Yuste J. (2012) Cefditoren and ceftriaxone enhance complement-mediated immunity in the presence of specific antibodies against antibiotic-resistant pneumococcal strains. PLoS One. 2012; 7(9): e44135.

Cafini F, Yuste J, Gime´nez MJ, Sevillano D, Aguilar L, et al. (2010) Enhanced in vivo activity of cefditoren in pre-immunized mice against penicillin-resistant S. pneumoniae (serotypes 6B, 19F and 23F) in a sepsis model. PLoS One 5: e12041.

Gaziano R, Bozza S, Bellocchio S, Perruccio K, Montagnoli C, et al. (2004) Anti-Aspergillus fumigatus efficacy of pentraxin 3 alone and in combination with antifungals. Antimicrob Agents Chemother 48: 4414–4421.

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