Instituto de Microbiologia Paulo de Góes

UFRJ_Horizontal_Negativa
UFRJ_Horizontal_Negativa

INSTITUTO DE MICROBIOLOGIA PAULO DE GÓES

english_icon
espanol_icon
16/04/2015

Microbiota Oral X Saúde

Por Talita Lourenço

Figura 1 – Placa supragingival evidenciada. Biofilme polimicrobiano. http://bit.ly/WiXRL0Estima-se que o corpo humano seja composto por mais de 1014 células das quais 90% são células microbianas. Esse “microbioma humano” apresenta uma atividade metabólica similar ao fígado e é fundamental no desenvolvimento e homeostasia do organismo humano. Apesar do íntimo contato e translocação de micro-organismos entre as diversas superfícies do corpo humano, as microbiotas de diferentes regiões do corpo são distintas.  Este fato sugere que a propriedades específicas de cada  um destes ambientes  determina   que microbiota é capaz de se estabelecer nessa região.

A cavidade oral apresenta uma das mais diversas e complexas microbiotas do organismo humano, resultante da grande variedade de determinantes ecológicos ali presentes, sendo o maior reservatório de micro-organismos para contágio e um sistema aberto para contaminação. Essa microbiota encontra-se normalmente em harmonia com o hospedeiro, sendo extremamente importante na proteção contra patógenos externos com produção de bacteriocinas, surfactantes e H2O2 e por serem adaptadas ao ambiente,  levam vantagens  na competição por nutrientes  em relação  a micro-organismos externos  e  auxiliam no desenvolvimento do sistema imune mucoso por reações cruzadas, como os anticorpos contra o Streptococcus pneumoniae  que reagem cruzadamente com pneumococo. Porém alterações locais e/ou sistêmicas como diminuição da saliva, alteração da dieta e antibióticos, podem resultar no desequilíbrio dessa relação e na manifestação clínica de doenças.

Atmosferas anaeróbias e aeróbias, ambientes com variações de pH, diferentes superfícies de contato, além de características anatômicas tornam a cavidade oral propícia para formação de biofilme, comunidade polimicrobiana embebida em uma matriz extracelular de componentes orgânicos e inorgânicos, conferindo proteção contra defesas do hospedeiro, antimicrobianos e facilitando a comunicação intermicrobiana. Esse biofilme pode apresentar características patogênicas dependendo da sua composição e localização. Por exemplo, quando essa estrutura é encontrada nos dentes, é chamada de cariogênica, apresentando bactérias capazes de produzir ácidos que diminuem o pH e levam a desmineralização do dente. Já quando encontradas nos tecidos moles como a gengiva, é chamado de periodontopatogênico, tendo bactérias capazes de destruir os tecidos de sustentação do dente. Ambos os casos podem ser evitados com uma boa higiene oral, evitando seu estabelecimento e o desenvolvimento dessas espécies patogênicas.

Esse balanço entre a microbiota normal e contaminação externa, também é muito importante para evitar manifestações orais de doenças sistêmicas, como a candidíase, e doenças sistêmicas que já foram relatadas com associação a patologias orais, como endocardite e artrite reumatóide devido a produtos lançados na corrente sanguínea ou bacteremia numa simples escovação, uso do fio dental e procedimentos cirúrgicos. Segundo uma publicação de 2010, o microbioma oral pode ser importante no câncer e outras doenças crônicas, através do metabolismo direto de carcinógenos químicos e através de efeitos sistémicos inflamatórios.

Por isso a higiene bucal é essencial, mantendo os níveis da microbiota normal e impedindo a contaminação com patógenos. Escovação, fio dental, enxaguatórios e uma visita regular ao dentista diminui em até 70% a incidência de doenças bucais, evitando também doenças sistêmicas.

Referências Bibliográficas:

Aas JA, Paster BJ, Stokes LN, Olsen I, Dewhirst FE. Defining the normal bacterial flora of the oral cavity. J Clin Microbiol 2005: 43: 5721–5732.

Ahn J, Yang L, Paster BJ, Ganly I, Morris L, Zhiheng Pei2, Richard B. Hayes1. (2011) Oral Microbiome Profiles: 16S rRNA Pyrosequencing and Microarray Assay Comparison. PLoSONE 6(7): e22788. doi:10.1371/journal.pone.0022788

MAGER, D. L., XMENEZ-FYVIE, L. A., HAFFAJEE, A. D., SOCRANSKY, S. S. DISTRIBUTION OF SELECTED BACTERIAL SPECIES ON INTRAORAL SURFACES. J. CLIN. PERIODONTOL. 2003, 30,644-654.

Marsh PD. Are dental diseases examples of ecological catastrophes? Microbiology 2003: 149: 279–294.

Meurman J (2010) Oral microbiota and cancer. Journal of Oral Microbiology 2:1–10.

Socransky SS, Haffajee AD. Dental biofilms: difficult therapeutic targets. Periodontol 2000 2002: 28: 12–55.

Paster BJ, Bosches SK, Galvin JL, Ericson RE, Lau CN, Levanos VA, Sahasrabudhe A, Dewhirst FE. Bacterial diversity in human subgingival plaque. J Bacteriol 2001: 183: 3770–3783.

Rosebury, T. 1966. Microbiology. J Am Dent Assoc. 72 (6):1439-47.

Socransky SS, Haffajee AD. Periodontal microbial ecology. Periodontol 2000 2005: 38: 135–187.

Socransky SS, Haffajee AD. Dental biofilms: difficult therapeutic targets. Periodontol 2000 2002: 28: 12–55.

Wilson M. Microbial inhabitants of humans. Their ecology and role in health and disease. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005.

Compartilhe

logo_impg_color
logo branco