Por Deborah Nascimento
Ultimamente tem se falado muito sobre contaminação de superfícies, de alimentos e higiene do corpo. Mas hoje iremos falar um pouco sobre a higiene em instrumentos musicais. É muito comum em escolas de música o compartilhamento desses instrumentos entre os alunos. A falta de higienização no manuseio dos mesmos é evidente, principalmente nos de sopro. Por vezes há o manuseio das palhetas sem higienização prévia das mãos e da própria palheta.
Tocar instrumentos de sopro envolve expulsão forçada de um fluxo de ar contínuo dos pulmões através da boca para dentro do instrumento para a produção de som. A saliva pode abrigar uma série de patógenos bacterianos e virais e consequentemente os instrumentos musicais podem ser contaminados por eles. A proximidade de boquilhas contaminadas com a cavidade oral poderia facilitar a disseminação local e sistêmica do micro-organismo residente o que poderia causar danos graves ao músico.
Ano passado, em Tulsa, nos Estados Unidos, um grupo da universidade de Oklahoma demonstrou que os componentes internos desses instrumentos abrigavam micro-organismos oportunistas, patogênicos e/ou alergênicos. As maiores concentrações de micro-organismos foram encontrados de forma consistente no bocal, mas havia evidências de contaminação ao longo dos instrumentos e seus estojos. Também no ano passado, pesquisadores da Escola de Medicina em Boston, Massachusetts, mostraram que os instrumentos musicais podem abrigar bactérias e/ou leveduras viáveis. Em instrumentos previamente tocados há três dias foram encontrados micro-organismos típicos da boca, enquanto que após 72 horas foram isolados micro-organismos do ambiente. Esse mesmo grupo testou a sobrevivência de bactérias potencialmente patogênicas (Staphylococcus, Streptococcus, Moraxella, Escherichia coli e Mycobacterium tuberculosis atenuada) aplicando-as à palheta de um clarinete. Todas as espécies sobreviveram por no máximo 24-48 h, exceto Mycobacterium, que persistiu por 13 dias. Herpes labial também é comum entre instrumentistas. Hepatite A, hepatite B e vírus Epstein-Barr também podem ser transmitidos por saliva.
Mas para quem pensou que o risco é somente para quem toca instrumentos de sopro, se enganou. Problemas de pele podem ser diagnosticados em músicos que tocam instrumentos de corda. Por exemplo, a dermatite de contato alérgica foi a mais freqüentemente relatada em violinistas e violistas em uma pesquisa da Ruhr-University Bochum, em 19 universidades de música na Alemanha. Além disso, infecções secundárias podem ser causadas por pele irritada ou traumatizada, dentre elas a paroníquia.
Assim, é importante a conscientização dessa parte da população, profissionais ou amadores, dos riscos que se corre ao compartilhar itens de uso tão íntimo e pessoal. O ideal é, se possível, que cada aluno tenha seu próprio instrumento. Também é importante ficar de olho às possíveis reações alérgicas que podem ser provocadas pelos instrumentos. Se perceber alguma alteração de pele procurar imediatamente o dermatologista. O cumprimento dessas medidas manterá a saúde dessa classe tão seleta de pessoas e garantirá o nosso prazer de ouvir uma boa música.
Assim, é importante a conscientização dessa parte da população, profissionais ou amadores, dos riscos que se corre ao compartilhar itens de uso tão íntimo e pessoal. O ideal é, se possível, que cada aluno tenha seu próprio instrumento. Também é importante ficar de olho às possíveis reações alérgicas que podem ser provocadas pelos instrumentos. Se perceber alguma alteração de pele procurar imediatamente o dermatologista. O cumprimento dessas medidas manterá a saúde dessa classe tão seleta de pessoas e garantirá o nosso prazer de ouvir uma boa música.
Candida albicans. – http://www.musee-afrappier.qc.ca/en/index.php?pageid=3113b&image=3113b_muguet
Glossário:
Dermatite de Contato: é uma condição inflamatória, que com frequência apresenta eczemas e é causada por uma reação cutânea a diversos tipos de alergênicos.
Paroníquia: é uma infecção da pele que rodeia a unha, habitualmente causada pela levedura Candida albicans e, mais raramente, por bactérias.
Referências Bibliográficas:
Glass RT, Conrad RS, Kohler GA, Bullard JW. Evaluation of the microbial flora found in woodwind and brass instruments and their potential to transmit diseases. General Dentistry, 2011, 59(2):100-7
Gambichler T, Uzun A, Boms S, Altmeyer P, Altenmüller E. Skin conditions in instrumental musicians: a self-reported survey. Contact Dermatitis. 2008, 58(4):217-22.
Marshall B, Levy S. Microbial contamination of musical wind instruments. Int J Environ Health Res., 2011, 21(4):275-85.
Moore JE. Always blow your own trumpet! Potential cross-infection hazards through salivary and respiratory secretions in the sharing of brass and woodwind musical instruments during music therapy sessions. J Hosp Infect., 2004 , 56(3):245.
Gambichler T, Boms S, Freitag M. Contact dermatitis and other skin conditions in instrumental musicians. BMC Dermatol. 2004, 16;4:3. Review.
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