Instituto de Microbiologia Paulo de Góes

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INSTITUTO DE MICROBIOLOGIA PAULO DE GÓES

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26/07/2016

Mulheres na Ciência

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Matéria escrita na disciplina de extensão de integração acadêmica do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas: Microbiologia e Imunologia.

Por Carolina Pacini

Ao longo da história, o papel da mulher na ciência foi expressivo e as suas contribuições científicas se manifestaram nas mais diversas áreas do conhecimento. São muitos nomes importantes na agronomia, astrologia, geologia, física, química e na tecnologia, por exemplo. Os avanços promovidos por mulheres nos campos da genética, fisiologia e farmacologia foram imprescindíveis para um maior entendimento sobre o corpo humano, assim como os estudos constantes sobre os microrganismos permitiram o desenvolvimento de novas terapias contra doenças infecciosas. Entretanto, dentre todas as 870 pessoas laureadas com um Prêmio Nobel desde sua criação até então, apenas 48 são mulheres. Marcadas na História, vamos relembrar neste artigo algumas dessas representantes na área científica.

A brilhante cientista polonesa Marie Sklodowska Curie foi pioneira nos estudos sobre a teoria da radioatividade juntamente com seu marido, Pierre Curie, e descobriu dois novos elementos químicos: o polônio e o rádio. Marie Curie foi não somente a primeira mulher laureada com um Prêmio Nobel, como também a primeira pessoa a receber duas vezes o prêmio, sendo o Nobel de Física e o de Química em 1903 e 1911, respectivamente. A filha do casal, Irène Joliot-Curie, continuou os estudos na área e produziu o primeiro isótopo radioativo artificial, conquistando com isso o Nobel de Química de 1935.

Rosalyn Yalow, uma admiradora de Marie Curie, entrou na Universidade de Illinois, EUA, em 1941, sendo a única mulher entre 400 homens – conquista que ela atribuiu ao fato de muitos homens terem saído para lutar na Segunda Guerra Mundial. Sendo assim, teve de superar a discriminação da época para seguir sua paixão: a ciência. Após tirar nota A– em um curso prático da pós-graduação de física nuclear, ouviu do diretor que isso “confirma que mulheres não servem para trabalhar em laboratório”. Sem se deixar abater, desenvolveu ao longo de sua carreira o Radioimunoensaio, método que consegue detectar baixíssimas quantidades de hormônios no sangue pelo uso de radioisótipos, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1977.

Outra grande mulher que revolucionou a medicina foi Gertrude Elion. Trabalhando inicialmente com química orgânica, acabou se envolvendo com a microbiologia e a bioquímica dos compostos que sintetizava. Após ser rejeitada em 15 programas de pós-graduação pelo fato de ser mulher, aceitou ser assistente de laboratório mesmo sem remuneração, até conseguir se associar, anos depois, ao grande grupo farmacêutico Burroughs-Wellcome. Nos anos 50, ela participou do desenvolvimento de um método esquemático para produção de fármacos, o que a permitiu produzir drogas contra leucemia, gota, rejeição ao transplante e infecção por herpesvírus, como o aciclovir, primeira escolha na terapia até hoje por ser um medicamento seguro e eficiente. Foi laureada com o Prêmio Nobel de Medicina em 1988.

Mais atualmente, a virologista francesa Françoise Barré-Sinoussi recebeu o Nobel de Medicina de 2008 pela descoberta do vírus da imunodeficiência humana, o HIV, com seu mentor Luc Montagnier, feita em 1983. Nessa época estava ocorrendo a grande epidemia de AIDS, portanto conhecer o agente infeccioso foi de extrema importância para possibilitar um avanço no desenvolvimento de métodos terapêuticos para o combate à doença. Ainda na graduação, Françoise se interessou pelo mundo científico e procurou por estágio em muitos laboratórios, o que, segundo ela, foi difícil por ser uma mulher muito nova. Após meses de rejeição, finalmente foi admitida em um dos maiores centros de pesquisa do mundo, o Instituto Pasteur, na França, onde desenvolveu toda sua carreira.

O ano de 2009 foi marcante em relação à premiação de mulheres no mundo acadêmico: Elizabeth Blackburn e sua aluna de doutorado Carol Greider descobriram na década de 80 a enzima telomerase e como os telômeros protegem os cromossomos, o que lhes rendeu o Nobel de Medicina. No mesmo ano, Ada E. Yonath foi premiada com o Nobel de Química pelos seus estudos sobre o ribossomo por cristalografia de raio X, o que foi importante para os estudos em criação de antibióticos, sendo a primeira mulher do Oriente Médio a conseguir tal feito.

Outra mulher oriental notável é a farmacologista chinesaYouyou Tu, que focou seus estudos na medicina tradicional chinesa para combate à malária. Com base em textos datados de mais de mil anos atrás, ela encontrou uma erva promissora dentre as 200 que seu grupo estudou e foi investigar o princípio ativo, tendo o desafio de aplicar os conhecimentos empíricos dos textos na prática com os recursos modernos científicos disponíveis na década de 70. Dessa forma, ela extraiu a artemisina, substância que inibe o parasita causador da malária e, com isso, salvou milhões de vidas ao redor do mundo. Por encontrar a cura dessa doença, Youyou Tu foi laureada com o Nobel de Medicina de 2015.

É evidente que existem muitas outras mulheres que tiveram extrema importância para a ciência, mas que não foram agraciadas com o Nobel – o que de forma alguma tira o mérito delas. Rosalind Franklin foi uma grande injustiçada por não ter sua contribuição reconhecida nos estudos do modelo de dupla hélice da molécula de DNA. Em 1952, ela obteve imagens por raio-X muito boas da molécula e, assim, esteve muito perto de desvendar a estrutura. A questão era que ela escondia a imagem a sete chaves, uma vez que as mulheres eram completamente desvalorizadas no meio acadêmico naquela época: as alunas da King’s College não eram admitidas no restaurante e no salão de veteranos faculdade. Porém, seu colega de laboratório Maurice Wilkins compartilhou a imagem, sem o conhecimento e permissão de Franklin, com uma dupla de pesquisadores competidores na corrida para resolução da estrutura, Watson e Crick. Com base no que eles já sabiam, essa foi uma ajuda significativa: imediatamente depois, eles publicaram na Nature a proposta para estrutura, hoje já consagrada, sem mencionar Franklin. Ela faleceu em 1958 vítima de câncer pela exposição excessiva aos raios X e o Nobel de Medicina foi concedido para Wilkins, Watson e Crick em 1962, ano no qual a participação dela ainda não havia sido reconhecida. Em 2010, cartas trocadas na época entre Wilkins e Crick foram encontradas e comprovaram que a descoberta dos cientistas só ocorreu devido aos estudos de Franklin, a quem eles desprezavam e humilhavam, inclusive, nessas cartas.

Jocelyn Bell Burnell foi uma astrofísica que detectou a primeira evidência de um pulsar, que é um tipo de estrela, mas foi excluída do prêmio Nobel de Física de 1974, concedido ao seu orientador Hewish e à Martin Ryle pela descoberta. Ela conta que teve de ser persistente para convencê-lo da anomalia encontrada, a qual ele acreditava ser um artefato apenas. Entretanto, Jocelyn recebeu vários prêmios e honrarias importantes na área e foi presidente do Royal Astronomical Society. Outra cientista não laureada, mas de extrema importância, foi Florence Sabin, umas das primeiras mulheres médicas a construir carreira como pesquisadora, primeira mulher eleita para membro permanente da National Academy of Sciences e primeira a ser aceita na Johns Hopkins University School of Medicine, como aluna e, posteriormente como professora, em 1917. Desenvolveu seus estudos sobre o sistema linfático e a interação do sistema imunológico com a bactéria causadora da tuberculose.

Embora não tenham sido citadas aqui, outras tantas mulheres lutaram para seguir seus sonhos, estudar e trabalhar como pesquisadoras nas mais diversas áreas acadêmicas. Barbara McClintock, Nobel de Medicina de 1983, pela descoberta dos elementos genéticos móveis e Dorothy Hodking, Nobel de Química de 1964, que determinou a estrutura da penicilina e da vitamina B12, são exemplos disso. Todavia, independente de ter recebido ou não um Prêmio Nobel, todas são relevantes e devem ser sempre lembradas na História por suas contribuições que estão refletidas no nosso cotidiano até os dias atuais. 

Referências:

http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/lists/women.html

http://www.eiu.edu/wism/about_biographies.php

http://www.theguardian.com/society/2014/jul/25/francoise-barre-sinoussi-on-the-history-and-future-of-hiv-research

http://www.sdsc.edu/ScienceWomen/franklin.html

http://www.bbc.com/news/blogs-china-blog-34451386

http://www.biography.com/people/florence-sabin-9468690#profile

Jocelyn Bell Burnell

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