Por Marcio L. Rodrigues – Prof. Associado, Instituto de Microbiologia da UFRJ
A incidência das infecções humanas causadas por fungos aumentou em mais de 200% nas duas últimas décadas. Dada a similaridade entre as estruturas celulares observadas em fungos e humanos, a terapia antifúngica é frequentemente associada a efeitos colaterais expressivos e baixa eficiência. Nesse contexto de alta complexidade, as taxas de morbidade e mortalidade em pacientes infectados por fungos patogênicos são consideradas como altas. Por exemplo, estimativas recentes mostram que cerca de um milhão de indivíduos por ano no planeta desenvolvem quadros de meningite causados por espécies do gênero Cryptococcus. A taxa de mortalidade nesses pacientes gira em torno de 65% em até três meses após a infecção. Na África, estima-se atualmente que morram mais pessoas acometidas de criptococose cerebral do que de tuberculose, por exemplo. [1]
Os estudos na área de Micologia Médica no Brasil mostram grande consistência científica há várias décadas. Entretanto, por muitos anos, permaneceu muito reduzido o número de grupos na área distribuídos por nossas Instituições de Ensino e Pesquisa. O crescimento global da importância das infecções causadas por fungos mudou radicalmente esse quadro. Esse novo quadro resultou num claro aumento da geração de conhecimento científico na área de Micologia Médica no Brasil, conforme ilustrado a seguir.
Em estudo recentemente desenvolvido em nosso laboratório por Priscila C. Albuquerque, estudante de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Instituto de Microbiologia da UFRJ, o crescimento da contribuição científica de Instituições brasileiras para a área de Micologia Médica foi claramente evidenciado. Usando como modelo as espécies patogênicas pertencentes ao gêneroCryptococcus, foi demonstrado que o Brasil saltou de uma contribuição limitada a 1% dos artigos científicos publicados no mundo em 1991 para cerca de 20% em 2010 [2]. Esses números colocam o país na segunda posição internacional no ranking de geração de conhecimento científico na área, atrás apenas dos Estados Unidos da América. O fato de que, na área Biomédica, o país é atualmente responsável por cerca de 2% das publicações científicas [3] torna clara a relevância da produção brasileira nessa subárea da Micologia Médica. Em áreas de aspectos científicos gerais como Bioquímica, Genética, Biologia Molecular, Medicina, Imunologia e Microbiologia, o Brasil tem produção científica internacional posicionada entre o 12º e 14º lugares [2], confirmando a posição prestigiada do país no campo de Cryptococcus e criptococose.
Embora o volume de conhecimento gerado por autores brasileiros na área tenha aumentado consideravelmente, esse ainda não é o perfil observado para o impacto de nossas descobertas. Nossos artigos científicos são menos frequentemente citados do que as publicações produzidas pela maioria dos países líderes na área [2]. A média de fator de impacto dos periódicos científicos onde nossos artigos são publicados é também consideravelmente inferior à observada para os artigos produzidos nos Estados Unidos, líderes na área [2]. Torna- se estimulante, portanto, procurar sedimentar a posição do país entre os líderes na área, enfrentando o desafio de buscar cada vez mais qualidade para o conhecimento científico gerado em nossas instituições.
Referências citadas:
1. Park BJ, Wannemuehler KA, Marston BJ, Govender N, Pappas PG, et al. (2009) Estimation of the current global burden of cryptococcal meningitis among persons living with HIV/ AIDS. AIDS 23: 525-530.
2. Albuquerque PC, Rodrigues ML (2012) Research trends on pathogenic Cryptococcus species in the last 20 years: a global analysis with focus on Brazil. Future Microbiology 7: 319- 329.
3. Editorial (2011) Biomedicine in Brazil. Nat Med 17: 1169-1169.
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